Quando ingressei no curso de informática, no complementar, foi por pura carolice. Ou era isso ou era desporto, mas a informática intrigava-me. Quando consegui o meu primeiro emprego, na área de informática, fiquei banzado. Nessa altura a procura era maior que a oferta e os sistemas computorizados, apesar de já estarem instalados há uns anos, ainda estavam numa fase precoce. Era a fase de transição, com o aparecimento da Internet. Nessa altura o informático era um sabe-tudo, um homem-dos-sete-ofícios. Percebia de tudo um pouco e, por isso, era sempre conveniente tê-lo por perto e pagava-se por isso.
Hoje em dia o mundo não pode viver sem informáticos que, apesar de mais especializados, nunca se restringem, como se atletas de alta informatização (i.e. alta competição) fossem, a uma "modalidade". De um programador , a um hacker, passando por um profissional de T.I., todos percebem de programação, de sistemas de segurança, percebem de hardware, de software, todos sabem piratear umas músicas ou uns jogos, etc... Mas, talvez por causa dessa generalização e abundância de informáticos, o informático está-se a tornar, hoje em dia, o operário comum. Cada vez mais são mal pagos para trabalharem em áreas críticas e/ou sensíveis e não há, da parte dos empregadores, uma compreensão de como os avaliar, remunerar e como os potenciar para que, com uma força de trabalho tão boa em mãos, se possa evoluir a empresa e na empresa.
Estamos a caminhar para terrenos pantanosos. Numa era em que a inactividade momentânea de um servidor pode significar prejuízos avultados a várias empresas (e, consequentemente, maiores à empresa responsável pela manutenção do dito servidor/serviço), ter lá um Zé Manel a trabalhar horas a mais, com ordenado a menos, sem formação específica e de qualidade, é jogar à roleta russa e é esta permissividade que me choca. Choca-me porque, se houver borschtta, não é o director de recursos humanos e/ou o director do departamento do Zé Manel que saem prejudicados. Não! Quem sai prejudicado é o Zé, que vai para a rua. E os senhores directores, com o seu no bolso, carro de serviço e outras regalias, metem mais um anúncio em jornais e em empresas de trabalho temporário, à procura de mais um Zé Manel que lhes tape o buraco (salvo seja), por tuta e meia e que se possa tornar um bode expiatório se a coisa der para o torto (shit roles downhill, como dizem os américas). Mas se a coisa der mesmo para o torto, lá estão os senhores directores a abandonar a empresa, quais ratos num navio que se fundeia, para cargos de direcção noutra futuras empresas falidas ou, pior, geridas com dinheiros dos contribuintes.
quarta-feira, janeiro 26, 2005
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