Pesquisas Inconformadas

quinta-feira, setembro 22, 2005

Metrossexualidades

Vinha eu hoje a ouvir a prova oral na Antena 3 e o tema de hoje era a Metrossexualidade (ou a interpretação, ou falta de, que as pessoas têm dela).

Confesso que, do que ouvi, foi tudo muito superficial... tinham lá uma esteticista (! posso estar enganado, mas foi a ideia que fiquei pois não ouvi de início) e os temas rondavam à volta da depilação masculina, do uso de cosméticos (perfumes, cremes, esfoliantes), dos cuidados com a pele, com a roupa, etc. Dos "convidados" ao telefone tb tudo andava à roda disso. Uns admitiam depilar-se, outros diziam que não queriam ser metrossexuais se isso implicava ser como o white castle, umas ligavam para lá a dizer que gostavam muito dos seus namorados (uns + outros -) metrossexuais etc... mas não ouvi ninguém discutir a base dos conceitos, ficando apenas nos fait divers...

Primeiro vou tentar colocar aqui as minhas ideias, para depois as poder descrever extensivamente, para não correr o risco de perder a maioria delas: Não gosto de rótulos; Depilo-me em algumas zonas; Não faço a barba todos os dias (felizmente); Tenho cuidados com o meu corpo em geral; Tenho um vestuário e calçado diversificados; Sou heterossexual; O conceito de metrossexual foi criado por gays; Tenho muitos amigos gays com quem gosto de privar; O conceito metrossexual é explorado pela indústria de marketing porque o homem heterossexual é um filão de ouro por garimpar; O marketing feminino está esgotado nele próprio.

Creio que agora já vou conseguir agrupar estas ideias chave em textos intelegíveis:

- (: Não existe nenhum homem com 1m de sexo :). Logo o conceito metrossexual é, em si, como Freud certamente diria, um extensão do desejo masculino de ser maior, mais forte, mais possante. Piadas a parte, dado que o conceito deriva da junção de METROpolitano com heteroSSEXUAL, acredito piamente que, se o conceito se chamasse NANO ou MICROSSEXUAL, a maioria dos homens se desmarcaria inequívocamente. Como é METROssexual, ficam na dúvida e tal... não querem dizer que sim porque, regra geral, o "sufixo" sexual é mais usado com o prefixo homos, mas este prefixo METROs... se calhar é bom e tal, não convém dizer que não...

- Para um hetero que desde sempre foi habituado a ter cuidados básicos de higiene e que, na juventude, descobriu que alguns produtos melhoravam o aspecto borbulhento da pele, o aspecto de palha e a facilidade de pentear o cabelo encaracolado, que foi acompanhando as tendências da moda (masculina e feminina) e adaptando-se às alterações (cíclicas) da mesma, confesso que o conceito de metrossexual peca por ... tardio. Basicamente o homem desde há umas poucas gerações tem evoluído na sua maneira de ser, estar e pensar mas agora alguém descobriu um rótulo para o homem moderno e evoluído (seja ele metropolitano, ou não). Faço a barba quando me apetece. Por vezes gosto de ter a cara "lavada", outras gosto do aspecto da barba por fazer (a chamada barba de 2 dias, que dá aquele aspecto meio-malandro) e no inverno às vezes deixo-a crescer, quando a pachorra não abunda. Felizmente sou pouco peludo (e ainda bem, porque não gosto de pêlos) e, como tal, posso-me dar ao luxo de só ter de fazer a barba a cada 2 ou 3 dias. Coloco um bálsamo after shave e/ou um creme hidratante a seguir. Uso o creme hidratante para manter a pele hidratada e minimizar a ocorrência de pêlos encravados. Tomo banho todos os dias e uso desodorizante e perfumes. Tenho, em quase todos, pelo menos o perfume E o desodorizante e, de alguns meus preferidos, a linha completa (perfume, after shave, gel de banho, desodorizante). Corto as unhas das mãos e dos pés. Depilo algumas zonas por uma questão de gosto pessoal. Tenho cuidado com o meu corpo de uma forma geral. Tenho cuidado com a alimentação, tento fazer desporto regularmente, tenho cuidado com a pele, com o cabelo, tento dormir um mínimo de 5 horas e não mais de 10... Tenho um vestuário suficiente para me permitir vestir de acordo com o que me apetece e, se isso significar ir a um casamento sem gravata ou ir a uma festa de jeans rasgados e blazer, acontece no melhor estilo. Há muito que troquei os slips pelos boxers e deixei os slips para praticar desporto. Só que fazia isto e outras coisas ANTES, muitas delas muito antes, de aparecer o conceito de metrossexual o que me deixa baralhado... então se agora sou um metrossexual, antes era o quê? Ou o conceito de metrossexual é como o da pescada, antes de o ser, já o era (mesmo não sabendo)? Daí que rejeite o rótulo por completo;

- O conceito foi inventado, criado, descoberto, whatever, por gays. The beautifull people como, meritoriamente diria até, são chamados, são quem mais facilmente e comummente são identificados com as roupas fashion, os penteados extravagantes, os cuidados de beleza extremos, etc. São cultos e/ou instruídos e são pessoas com quem é agradável estar em variados eventos, desde festas a discussões sobre temas actuais. Interessam-se pelas novas tendências, sejam elas tecnologicas, políticas, literárias, entre outras. Cuidam do corpo num ginásio e usam vários produtos de beleza, fazem tratamentos de pele, massagens, SPA, etc... a maioria dos gays tem muitas amigas e muitas dessas amigas têm companheiros. Muitas das que têm companheiros começaram a "transpirar" alguns dos cuidados que os gays têm, para os seus companheiros e filhos. E este processo foi lentamente "cozinhando" de há umas duas décadas para cá. Obviamente que, nos EUA - onde apareceu o conceito, a diferença entre o homem metropolitano e o homem rural é maior. O mesmo acontece, acredito, em quase todos os países onde, por força da sua dimensão e/ou por força da disparidade numérica entre as populações urbanas e rurais, não haja um centro homogéneo em torno do qual rode a população masculina. Em todo o lado há a versão neanderthal (a peúga branca, a unhaca comprida, os cabelos no peito bem à mostra junto com o fio d'oiro e os cachuchos) e em todo o lado há a versão drag queen mas, é quando a maioria se encontra afastada destes extremos que se consegue uma maior homogeneidade. Mas faltava uma bandeira, um ícone, um símbolo vivo desta expressão de aspecto cuidado mas "muito macho" por dentro. A maioria dos modelos são gay mas, mesmo que não o sejam, a sua profissão exige que andem sempre na moda, pelo que não seriam o melhor exemplo. Precisava-se de alguém popular, com uma profissão popularmente masculina (nada de cabeleireiros ou bailarinos). Alguns cantores, como o Robbie Williams, eram bons candidatos mas os artistas não são idóneos o suficiente para serem um estandarte (sex, drugs & rock'n'roll não coadunam propriamente com uma imagem saudável), embora sejam um bom suporte para este pela parte do glamour... até que apareceu o David Beckam. É um jogador da bola, desporto "macho" e "viril" (apesar de todas aquelas palmadinhas e festinhas e abracinhos), casado com uma das mulheres mais bonitas (e fashion) do mundo e admite sem preconceitos cuidar de si e insinuar até que é esse o seu segredo com as mulheres. Admitiu até, numa ocasião, usar lingerie da mulher em algumas ocasiões. O conceito metrossexual ergueu a sua estátua e estancou de pedra e cal no mundo masculino.

- Quem são os principais dinamizadores (e benefíciários) de toda esta campanha de metrossexualidade? O mundo da moda (que me remete, novamente, ao ponto dos gays) e as agências de marketing e publicidade! Agora, um Figo, um Nuno Gomes, um Pauleta, um Cristiano Ronaldo, já não servem só para vender combustíveis, hambúrgueres ou queijo, servem para vender relógios, roupas, produtos de beleza masculina, tudo! Os jogadores da bola, em particular, e os desportistas em geral tornaram-se nos ícones da metrossexualidade, ajudados pelos já normais artistas (actores, músicos, artistas plásticos). Ele é vê-los com os seus fatos designer, as malinhas de viagem L-V (que podem ser muito boas, ou não, mas são feias a olho), a sua pele reluzende e luzidia, os dentes perfeitos (ok, há excepções, especialmente em PT), os penteados cuidados e diversos, rodeados de mulheres também elas bem cuidadas e com os carros que todos gostaríamos de ter. Mas, e é aqui que está o verdadeiro filão, o truque é que os estudos de mercado mostram que os homens são "melhores" consumidores que as mulheres. Não andam 5 horas num centro comercial para comprarem 3 peças de roupa, para cada uma dessas peças não andam 1h30m a ver todas as lojas que têm igual, ou parecida e, a cereja no topo, para eles o preço não interessa tanto como o prazer de ter aquela peça ou objecto. O MKT à volta dos produtos femininos anda-se a reinventar a ele próprio há décadas (há séculos, diria milénios, que as mulheres dominam este mercado). Uns milhares de anos têm tendência a fazer isso :). O MKT masculino abriu aqui uma nova janela que, qual poço de petróleo descoberto no próprio quintal, promete muitos e bons anos de rendimentos. As agências de MKT e PUB vendem a metrossexualidade como o ideal do homem perfeito e a indústria de moda (desde a roupa à cosmética, passando pelos acessórios, ginásios e spas) fornece-nos isso... mediante um preço.

6 comentários:

Anónimo disse...

O conceito metrossexual foi usado pela primeira vez por Mark Simpson, tendo sido aproveitado pelas revistas masculinas britânicas e norte-americanas para definirem o seu público alvo. O termo caiu em desuso e foi re-introduzido em 2000 com a diminuição dos tabus relativos à homossexualidade. Só regressou «em força» em 2002 com novo artigo de Simpson. Uma empresa aproveitou para fazer uma pesquisa de mercado e o «New York Times» deu grande destaque ao tema difundindo bastante o assunto.

Anónimo disse...

Simpson usou o conceito pela 1ª vez em 1994. Apenas escrevo para dizer como surgiu o conceito, já que não foi inventado por gays, mas sim por este jornalista em particular, sendo mais tarde difundido.

Bart Simpson disse...

faz sexo a metro...

L'enfant Terrible disse...

Flávio, muito obrigado pela correcção. Folgo em aprender e folgo em saber que tenho leitores bem informados no mê blogui :).

Agora só não sei se corrija o post, ou não, porque se o corrigir o seu comentário "perde-se"...

Acho que, apesar de incorrecto, deixo ficar. Pelo que leio nos seus comentários o conceito original não foi "implementado" por causa da conotação eventualmente gay que o mesmo poderia ter, pelo que acho que a minha afirmação, apesar de incorrecta, não fica muito longe da verdadeira razão para o mesmo ter voltado agora... a não ser que tenha mais uma surpresa para mim :D.

girl disse...

Acho bem os rapazinhos andarem lavadinhos e cheirosos ;)

Também ouvi parte do programa da Antena 3 e ao contrário da convidada "esteticista??" gosto muito de uma barba de 2 ou 3 dias (desde que nada exagerado)...

L'enfant Terrible disse...

É giro, o teu blog, sldance...

:)