Pesquisas Inconformadas

segunda-feira, junho 27, 2005

Aprisionei o céu

Hoje fartei-me de olhar para aquele céu azul e zombeteiro, altivo e gozão e aprisionei-o.

Coloquei um espelho, no fundo de uma caixa, bem no meio da rua e, devagarinho, fui espreitando para dentro dela a ver se ele lá estava.

De um salto coloquei-lhe uma grade em cima.

(Os minutos seguintes foram passados comigo em pé a admirar o céu por debaixo dos meus pés.)

Senti-me um Deus enquanto o pisava, lhe dava ou retirava sol, deixava que os pássaros e as nuvens nele viajassem.

Senti que estávamos quites.

Mais do que isso!

Senti que ele tinha entendido que lhe poderia fazer aquilo sempre que quisesse.

"Desci à terra".

Acocorei-me junto da caixa e sorri enquanto lhe retirava a grade de cima.

Olhei para cima e ele sorriu de volta para mim.

sábado, junho 25, 2005

Caça aos cães de luta

Sendo dono de um Rottweiller e, obviamente, sendo um dos otár... honestos que o legalizou devidamente, porque não tem nada a esconder, não posso deixar de reparar que, como em tudo, as leis que determinam se um cão é "potencialmente perigoso" (termo designado na lei), ou não e inclusive as medidas aplicadas a estes são, no mínimo, discutíveis. Diria até avulsas e caricatas e isto sem chegar às medidas de fiscalização impostas as quais, se existem, até agora só as vi no papel!

É que, convenhamos, estas leis feitas sob pressão e sem devida informação mais não servem do que chatear aqueles que, já antes dela existir, a cumpriam e tinham normas de conduta aplicadas aos seus bichos de companhia. Mas o que é facto é que, ainda hoje, continuam a haver lutas de cães patrocinadas por interesses mesquinhos daquilo que promete vir a ser um lucrativo negócio negro em Portugal como, de resto, se passa um pouco por todo o mundo.

Este post veio no seguimento de, a caminho do trabalho, ter-me cruzado com um automóvel que, no seu vidro, rezava +- assim "Ninhada de Pit Bulls disponível. Contacto xxxxxxxxx". É exactamente aqui que quero chegar e será aqui nesta base que apresentarei, que divirjo da lei. Os cães, todos eles, precisam de progenitores para nascer. Ora se não se conseguem controlar os progenitores, porque é impossível ir porta-a-porta perguntar se tem cão e pedir a respectiva licensa (embora se possa e deva, fazê-lo na rua mas não conheço caso nenhum), porque não controlar as ninhadas? Basta colocar uns poucos agentes a pesquisar anúncios nos jornais, sites e ao mesmo tempo "educá-los" para serem sensíveis a outras formas de escaparem a este controlo geral - como colocar o anúncio no vidro do carro ou no veterinário da zona - para depois enviar alguém a casa dessas pessoas para verificar se está tudo em ordem. Caso não esteja apreendem-se os animais até que o dono os legalize devidamente. Se este não o fizer, bem, estes cães, devidamente treinados, serão óptimos ingressos nas forças da ordem e os donos, obviamente devidamente identificados aquando da apreensão, responderão em tribunal.

Obviamente isto só não basta, não é uma fórmula milagrosa! Há que haver vontade política e social para resolver os problemas dos animais de companhia, nomeadamente implicar a "chipagem" e/ou tatuagem a todos os animais de companhia e verificar regularmente, seja nas ruas, seja através das ninhadas, seja através de um controlo de dados veterinários, para que este problema, tal como o problema do abandono dos animais quando já "não interessam" aos seus donos, comece a ser combatido eficazmente. Só assim se conseguirá incutir a responsabilização não só de quem tem animais de companhia, mas também de quem mora na vizinhança destes. Há que entender que se, o vizinho do prédio ao lado cuja cadela estava prenhe, teve uma ninhada e esta não foi devidamente registada, então estamos perante um potencial criminoso que deve ser denunciado às autoridades sob pena de, um dia, o nosso Bobby ser raptado no meio da rua ou mesmo do quintal, para servir de "treino" e/ou, então de ver os Bobbies e as Ladies que não foram vendidos, andarem aos caixotes, abandonados, no meio da rua!

sexta-feira, junho 24, 2005

O Arrastão - A Mudança

O Ministro das Pescas já mandou mudar o nome dos Arrastões de Pesca, por causa da conotação negativa associada ao nome das embarcações.

Ao momento desconhece-se qual o novo nome mas será algo do género:

"Esforço Violento e Impetuoso de Pesca"

de acordo com fontes próximas de Edite Estrela.

quarta-feira, junho 22, 2005

O orgasmo feminino...

Isto vai dar pano para mangas, mas para já fica por aqui...

http://www.correiodamanha.pt/noticia.asp?id=164096&idCanal=10

depois de ler o texto surgiu-me uma dúvida... o "levar aos céus" tem escalas? O que acontece quando se leva alguém à lua? A lua está para além do céu!

;c)

Sobre Álvaro Cunhal

Não gostava dele. É um facto. Não me prendo ao politicamente correcto de sublinhar apenas as qualidades esquecendo os defeitos (e, inclusive, que muitas dessas qualidade, dependendo do ponto de vista, podem ser defeitos). Mas respeito-o, aliás sempre o respeitei, pelo homem que foi, pela figura política que foi.

O PCP perdeu o seu Pai, vamos ver se o "neto" toma melhor conta da casa porque o "filho" era um banana que soava sempre a uma cassete gasta (devia ser da sibilação). Vamos ver agora como reagem os "reformadores" se voltam à carga, se integram outros partidos ou, até, criam um novo!

O Arrastão - o rescaldo

Este é um assunto que, pelo que tenho visto, tem sido tratado de formas díspares. Desde minimalismos a hipérboles tem havido de tudo varrendo todos os quadrantes sociais e políticos.

Este post vai ser sucinto:

Quem quiser conhecer as razões pelas quais "os pretos" são excluídos socialmente, pode inscrever-se numa associação humanitária e fazer trabalho de voluntariado (ou mesmo remunerado), projectos, etc. Visitar as cadeias, visitar os bairros, falar com as pessoas. Ver as condições em que os pais deles são obrigados a viver, ver o tempo que eles (não) têm para educar os filhos, ver e/ou compreender como é fácil para um criminoso, sob a alçada de uns quantos euros, aliciar uma criança a cometer pequenos delitos e, em poucos meses, criar um mini-criminoso profissional. E não talvez perceber que isto acontece só com "os pretos". Há muitos brancos nestes bairros nas mesmas condições, mas esses não interessam à extrema direita (afinal a culpa deles estarem ali é "dos pretos" que lhes roubaram o trabalho), nem às forças de segurança (quantos "pretos" existem nelas?) nem aos jornalistas (não vende jornais, nem cria manchetes).

Até lá poupava-se muito latim. . .

segunda-feira, junho 06, 2005

Ái-me béque

Ainda ontem me dizia o meu amigo Stephen, enquanto nos banhávamos ao sol e nas (frias) águas do Magoito "Não tens actualizado o teu blog".

É um facto. Tive algum vontade mas um sobrinho novo e mais de 3 semanas de sonos trocados fazem isto a um homem :).

Entretanto, e mercê dos emails que ele me manda, pude seguir as polémicas do cada vez melhor Frangos para Fora!

30(e um) anos depois do 25 de Abril...

E eis que parece que o tempo voltou atrás... este discurso, com mais de um século, tão bem se aplica aos dias de hoje...


" Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas; um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai; um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom, e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que um lampejo misterioso da alma nacional, reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta (...)

Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta ate à medula, não descriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que, honrados (?) na vida intima, descambam na vida publica em pantomineiros e sevandijas, capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira a falsificação, da violência ao roubo, donde provém que na politica portuguesa sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverosímeis no Limoeiro (...)

Um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo; este criado de quarto do moderador; e este, finalmente, tornado absoluto pela abdicação unânime do pais, e exercido ao acaso da herança, pelo primeiro que sai dum ventre, - como da roda duma lotaria.

A justiça ao arbítrio da Politica, torcendo-lhe a vara ao ponto de fazer dela saca-rolhas;

Dois partidos (...), sem ideias, sem planos, sem convicções, incapazes (...) vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos, iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero, e não se amalgando e fundindo, apesar disso, pela razão que alguém deu no parlamento, - de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar (...)"

Guerra Junqueiro, in "Pátria", escrito em 1896