Pesquisas Inconformadas

sexta-feira, fevereiro 17, 2006

Ela sorriu...

Ele tinha acabado de almoçar. Pediu a conta e pacientemente esperou. Com os olhos perscrutou cada pormenor do restaurante até que a conta chegou. Por indicação do empregado de mesa dirigiu-se à caixa, para pagar com cartão.

Ela recebeu-o com um sorriso:
- É para pagar?
Ele respondeu com um sorriso e estendeu-lhe o cartão.
- Visa, ou MB? - perguntou ela.
- Visa, sff.

Enquanto ela passava o cartão na máquina, ele observava cada pormenor do seu corpo. Os dedos compridos e delgados da mão dela, o braço tonificado, a ligeira assimetria dos seus ombros e costas, daquele ângulo, o cabelo apanhado que deixava antever o pescoço, a pele alva e luzidia com um aspecto de suavidade como o veludo, as feições bonitas e as belas formas de mulher adulta, não de adolescente.

- Assine aqui, sff.
Ele assinou o talão e entregou-lho. Olhou-a dentro dos olhos e como que a despiu de dentro para fora. Ela baixou os olhos... talvez ele tenha abusado um pouco, na profundidade do olhar:
- Aqui tem. Obrigado e volte sempre - ela voltava a olhá-lo, embora timidamente. Deixou escapar um leve sorriso.

Ele sorriu de volta e virou as costas, guardando os seus pertences na carteira. Deu dois passos e pausou. Voltou-se para trás:
- Desculpe...
Ela olhou, intrigada:
- Sim?
- Queria só dizer-lhe uma coisa...
Ele estava um pouco sem jeito. Ela franziu o sobrolho ao vê-lo inquieto.
- Você é realmente bonita! - a frase saiu-lhe como um suspiro preso no peito, lutando por sair. Virou as costas e continuou a marcha. Ela ficou indiferente, tinha ouvido piropos daqueles desde o início da adolescência.

Ele tinha acabado de sair pela porta quando ela se deu conta da sinceridade de cada uma das letras da frase que tinha acabado de ouvir. Começou a retirar o avental à pressa - aquela porcaria deu um nó quando ela tentou desfazer o laço... ela quase que o rasgou enquanto o tirava à pressa pela cabeça. Olhou para a mãe à procura de assentimento e compreensão. Não disse palavra mas os seus olhos debitavam toda a informação necessária. A mãe nada disse, apenas sorriu e abanou ligeiramente a cabeça...

Ela olhou-se ao espelho, alisou o cabelo, ajeitou a blusa e saiu disparada porta fora. Ele ia pouco mais à frente, com um andar pausado.
- DESCULPE! - Soltou ela enquanto acelerava o passo. Não queria correr mas também não queria ir devagar demais.

Agora era a vez dele de ficar intrigado.
- Aquelas palavras... aquele elogio... foi sentido, não foi?
A cabeça dele disparou com pensamentos a 1000 km/h. O que queria ela dizer com isso? Sim foi sentido e depois? Será que não gostou, sentiu-se ofendida?
A voz dela silenciou os pensamentos:
- O que é que quer de mim?
Os pensamentos dispararam ainda mais, passaram a barreira do som, cada vez mais próximos da velocidade da luz. Como assim? Não há perguntas fáceis? Os pensamentos tornaram-se imagens em fast forward. Um jantar à luz das velas, fazer amor numa praia tropical, ao pôr-do-sol, conhecê-la melhor, tendo grandes conversas para descobrir se a beleza interior era tanta como a exterior...
Ela interrompeu o "filme":
- Não estou habituada a não ser seduzida, depois de um elogio! A que não me peçam o nº de telefone ou o email...
Ele continuava mudo. As imagens, as palavras, tinham desaparecido.
- Mas você fez-me o melhor elogio da minha vida e não tentou obter nada em troca...
Ele apenas sorria com confiança no que o futuro lhe reservara:
- O meu nome é Filipe, muito prazer em conhecê-la...

2 comentários:

Bart Simpson disse...

e assim pode começar uma loooooga amizade...

Anónimo disse...

Cool!

Sendo um viciado no impulso e no momento (nada a ver com a Vodafone), adorei.

Eu ter-lhe-ia dado um twist cómico qualquer, mas se calhar é de ver e rever o Coupling até à exaustão :)