Pesquisas Inconformadas

sábado, outubro 25, 2003

De volta às blogorigens :)

Hoje estou numa de divagar!

É incrível como só damos valor às coisas e/ou pessoas quando lhes sentimos a falta! Damos, por defeito, as coisas por certas quando, ao final de algum tempo, elas começam a fazer parte da nossa rotina e depois não nos passa nunca pela cabeça que as coisas podem mudar de um momento para o outro.

Curioso é que, quando as coisas mudam num repente, os espíritos agitam-se e parece que se alimentam de mudança. Um reflexo disso são os jovens. Estão sempre em mudança e querem sempre mais e mais. Nunca estão satisfeitos. Os jovens masculinos, porque as mulheres nunca estão satisfeitas, ponto final parágrafo :P. E ainda bem, para que os homens não durmam na forma :). Depois, em adultos, gera-se o conformismo autoimposto pela sua necessidade de integração na sociedade. Quando não se tem nada é fácil largar tudo (duh!) e partir para outra aventura, mas quando se tem um carro/mota e se trabalhou para o/a comprar (e se trabalha para os manter), se quer comprar (ou se comprou) uma casa porque já não se aguenta viver mais sob o olhar rapino dos pais, dar a volta ao mundo, mudar de país/região, ou mesmo ir passar aquelas férias especiais, parece uma aventura digna de Júlio Verne.

Seinfeld tinha toda a razão quando disse, no final de um show seu, que nascemos ao contrário. Devíamos nascer com 99 anos, ir ficando cada vez mais novos enquanto íamos viajar pelo mundo aproveitando a reforma e ganhando uma noção real do que deveria ser uma aldeia global e de como funcionam as outras culturas. Depois começávamos a trabalhar a um ritmo calmo, aumentando progressivamente, até estarmos tão stressados que estaríamos perfeitamente preparados para ingressar no 5º ano da faculdade. Borgas até não podermos mais, tentar sem sucesso comer as gajas/gajos mais lindos, ir estudando cada vez menos nas horas vagas, sermos praxados, entrarmos no liceu e termos contacto com aquelas paixões avassaladoras que nos deixavam a escrever 500.000 vezes o nome da pessoa amada nas aulas de história, filosofia ou matemática, escrever Didi loves Dédé em tudo o que eram portas de casa de banho (esta nunca percebi!) e bancos de jardim. Progressivamente iríamos perdendo a noção de responsabilidade enquanto nos divertíamos cada vez mais, até que acabaríamos a nossa existência com um orgasmo... Claro que a versão dele era realmente bem mais curta que a minha :).

terça-feira, outubro 07, 2003

Será o trãnsito mais uma manifestação do Diabo?

O título é um pouco dramático, principalmente porque eu não acredito no Diabo. Pelo menos não como entidade separada de dEUS. A ideia de que uma entidade consiga ser tão poderosa como outra que é definida como Toda-Poderosa e que consiga ser quase tão poderosa como esta, ao ponto de lhe fazer frente, está tão carregada de paradoxos que tentar deslindá-la, para mim, é mais difícil que dançar em cima de um campo de minas anti-pessoal. But i degress...

O que me leva a escrever este desabafo são vários factores, todos interligados. O principal tem a ver com o facto de que, desde que tirei a carta, tento guiar de acordo com o mínimo de consideração para com os outros. Tento ter sempre presente que não estou sozinho na estrada e que as minhas acções ao volante/guiador de um veí­culo (desde uma bicicleta a um TIR) podem influenciar directa ou indirectamente as acções de terceiros. E faz-me uma certa confusão que nem todos ajam desta forma, alguns nem fazendo sequer o mínimo esforço para manterem uma postura cí­vica. A segunda tem a ver com o facto de, porque alguns não têm o mí­nimo de civismo (conhecerão a palavra, ao menos?), sofro diariamente com as suas acções. E se não as sofro mais na pele (já por algumas ocasiões, infelizmente, me foi dado a provar esse amargo sabor) é porque tento ter uma condução defens... não, defensiva não, preventiva. A terceira e última teve a ver com a gota de água. Então não é que nesta última semana fui chamado de assassino por uma senhora, porque simplesmente dei um leve toque na buzina, devido ao facto de que estive cerca de um minuto à espera que a senhora se decidisse a entrar numa rotunda, quando o trãnsito circulava a conta-gotas? Nem dei um buzinão, nem dei vários toques de buzina. Foi só mesmo um leve (e foi mesmo leve) toque não fosse ela não ter notado a minha presença ali e na esperança que a mesma se decidisse a avançar, lentamente, que certamente alguém lhe daria passagem (como aconteceu). Assim que passou a rotunda mete os 4 piscas, encosta à dta e baixa o vidro, nitidamente convidando-me a parar ao seu lado, não para dialogar mas para me (tentar) ofender. Este foi o prelúdio. A gota de água foi quando um dia destes, à saí­da da Circular de Benfica e ao tomar o rumo da CRIL, tenho de frenar o meu veí­culo para evitar o embate com um que vinha da 2ª circular e atravessa duas faixas de uma vez só para se colocar na faixa mais à direita, onde eu seguia. Na primeira oportunidade coloco-me à sua esquerda e comunico ao condutor que fez uma bela manobra, mas qual não é o meu espanto quando sou brindado com um valente "Vai para o cara***". Pronto, passei-me. Quer dizer EU é que evito o acidente e EU é que vou para o c******? Isto é demais. Mas custava muito pedir desculpa? Reconhecer o erro? Com o sangue a ferver convidei a pessoa a encostar na berma, para "trocarmos impressões" (as minhas impressões, na sua cara). Como o convite não foi aceite, e por causa desta herança latina, decidi seguir o agressor verbal a ver se teria coragem de, fora da segurança oferecida pelo seu veí­culo, se revelar tão valente. Mas, sinceramente, nunca esperei que a pessoa em questão estivesse a seguir o mesmo rumo do que eu. Pensei que a pessoa, a partir de certo ponto, tomasse um caminho diferente e eu deixaria as coisas passarem em branco, até porque isto não são maneiras de resolver as coisas. Infelizmente, para o rapaz, isso não aconteceu e chegámos a um ponto em que o trãnsito o obrigou a parar. Imobilizei o meu veí­culo, tirei a chave da ignição (nunca se sabe), e dirigi-me ao seu. Infelizmente a pessoa fechou o vidro mas deixou a porta destrancada. Abri a porta e fui directo ao assunto. Sem ser demasiado agressivo (foi só um pequeno estalo) perguntei directamente quem é que ia para o ca*****. O rapaz tentou sair do veí­culo mas, para seu bem, evitei que saísse. Após algumas trocas de mimos (via verbal) e de algumas buzinadelas do trãnsito atrás, lá o convenci a encostar para dialogarmos coisa que, em andamento e com injúrias à mistura, é algo para o difícil! Parece que o rapaz percebeu a frase "Bela manobra, sim senhor" como outra muito mais ofensiva (o que me deixou algo perplexo, pois como será tal possível?) e decidiu ripostar na mesma moeda. Como lhe disse, se não me tem ofendido as coisas não tinham seguido aqueles trâmites. O pobre foi ví­tima de uma série de circunstãncias mas espero que tenha aprendido algo e, de futuro, evite meter-se em futuros lios e evite mal-entendidos. Eu, pelo menos aprendi. Não lucrei nada com isto e não me senti melhor excepto pelo facto de ter extravasado alguma da minha fúria. Mas reconheço que, de outra forma, seria muito difícil levar a que pudesse ter tido qualquer contacto com este jovem. Não sou apologista da violência. Mas tb não sou de fugir de um confronto. O problema é que, nestes casos, não há um agressor definido. Hoje é uma tia no seu Grand Cherokee, amanhã um "xunning", depois de amanhã um dealer num desportivo matrícula K (ou com matrícula recente com data de 92), uma pessoa idosa cujos reflexos já não lhe permitem corrigir os erros, etc ... Ou se transforma cada caso num confronto (e passa-se a vida em duelos - o que se pode revelar arriscado) ou se vai virando a face até que, como eu, se decide que é altura de fazer algo.

E o papel das autoridades? Qual é? Continuar a caça à multa, em operações de tolerãncia zero à esquerda, sem qualquer cunho didático mas simplesmente repressor, que os torna (e não a quem os ordena) cada vez mais objecto de repulsa por parte dos cidadãos a quem são suposto defender, ao invés de sensibilizarem os transeuntes para o cumprimento das normas, as leis e apelarem ao dever cí­vico. Quantos casos conheço de pessoas que foram multadas por ultrapassarem alguém pela direita, após várias insistências para que estas cedessem passagem... mas não conheço um único caso de alguém que tenha sido multado por não ceder passagem quando lhe foi pedido. Se eu todos os dias vejo um rol de atrocidades várias, muitas delas repetidas, porque razão as autoridades não as vêem, ou não as querem ver? Porque razão os BMW e os Subaru não andam na estrada a cumprir o seu dever cívico? Era muito simples! A cada irregularidade detectada, deteriam a pessoa momentaneamente, informariam-na do que procedeu mal e lançariam a respectiva coima pelo valor mínimo. Mantendo um registo informático seria possí­vel saber se a pessoa repete essa contraordenação em específico (ou se cometeu muitas outras) e ir subindo o valor das coimas. Mas para isso teria que haver vontade política e o estado sabe que, implementando medidas dessas, os cidadãos iriam ser muito mais exigentes com o papel do próprio estado. Ora isto, por um lado, é bom mas, por outro, também é mau. Para os cidadãos é bom que o estado, qual Pai/Mãe/Mentor, tenha um papel definido, mas para os polí­ticos ir-se-ia traduzir em ter realmente trabalho. Trabalho em pesar os prós e contras de cada decisão, trabalho de informar os cidadãos, em consciência, do porquê dessa decisão e o trabalho de manter um espírito crí­tico e aberto.

Algo está podre no reino do Cherne

Um amigo meu enviou-me um email a dizer : Então ainda não blogaste sobre a filha do Ministro dos Negócios Estrangeiros (MNE)? Para falar a verdade não o fiz antes porque não tinha ainda informação suficiente sobre o assunto. E neste momento considero que ainda há muito por descobrir o que não me impede de tecer algumas considerações.

A polémica envolve vários ministros (2). Ao princípio ambos dizem que não fizeram nada de mal, e agora um deles demite-se e o outro... penso que nos resta acreditar na sua palavra, mas gato escaldado de água fria tem medo e ainda não se sabe porque razão o MNE cancelou todas as suas palestras em Roma... Há uma expressão inglesa que, talvez por causa da alcunha do nosso PM, se aplica aqui como o topping de um Hagen Dazs : "Something's fishy".

Bem ao menos o ministro Pedro Lynce manteve-se fiel ao seu estatuto de polémico. Do princípio ao fim do seu mandato nenhuma, ou quase nenhuma, acção tomada por este foi clara como água e livre de contestação. Excelente! Ou talvez não :P. Lets look at the traila:

"Por duas vezes, a assessoria jurídica de Pedro Lynce chumbou a ideia. A filha do ministro fez então o tal requerimento, que passou primeiro pelo director-geral do Ensino Superior, Requicha Ferreira, e depois transitou directamente para Lynce, passando à margem do seu gabinete jurídico." in Público: http://ultimahora.publico.pt/shownews.asp?id=1169565 ;

Ora isto é um claro exemplo do nacional desenrascanso. Se algo não é aceite pelas vias formais, vai-se pela porta do cavalo. Só que, neste caso, além de custar a demissão do ministro (se todos os ministros do Governo fossem assim, e se demitissem quando há polémicas deste nível...) ainda lhe pode custar uma pena de prisão (suspensa, SE - e é um grande SE - for aplicada). Da minha parte espero que o ex-Ministro fique com cadastro, para que sirva de exemplo a outros. Mas espero ainda que se saiba até ao final do desenlace da história o que, a acontecer, terá de ser filtrado um bocado da histeria dos média. É que isto de criar excepções a regimes excepcionais é, no mínimo, hilariante, mas ao género da tragicomédia. É tão mau que só pode dar para rir.

Bem ao menos o MNE, Pedro Cruz, garantiu que a filha não irá ocupar o lugar (que indevidamente ganhou) e irá estudar no estrangeiro (para o bem dela, certamente). Ainda há alguma decência na AR, ou isto é um pai a proteger a sua prole? Eu acredito mais na segunda!

quarta-feira, outubro 01, 2003

Abençoado inverno

Vem aí o Inverno. Supostamente seria o Outono mas, provavelmente devido ao efeito de estufa, as estações estão esbatidas. A Primavera e o Verão mesclam-se, da mesma forma que isso acontece com o Outono e Inverno.

Por isso vem aí o inverno! E com ele vem o aumento do trânsito nas estradas e os acidentes causados por quem não sabe conduzir. Mas as culpas, essas, são do excesso de velocidade. O facto de os instrutores de muitas escolas "ensinarem a passar no exame", ao invés de ensinarem a conduzir, só facilita este aspecto. O facto de as pessoas, no trânsito, aflorarem a sua falta de civismo, também não é tomado em conta.

E quem ganha com isso? Bem, em primeira mão... os mecânicos! Eles esfregam as mãos de contentes certamente. Mas, para já, coloco a hipótese de que haja um lobby dos mecânicos em acção junto do governo e/ou das escolas de condução, de parte. Não que não seja possível, mas não me parece verosímil.

Não, a culpa é do excesso de velocidade e pronto, estão tiradas as conclusões para que o governo possa justificar a caça à multa de modo a engordar os bolsos dos políticos. Sim porque os cofres do país, esses, estão sempre vazios! Ao menos, em tempos de crise, o país não perde dinheiro. Para o perder era preciso te-lo. E para te-lo era preciso uma boa gestão. E uma boa gestão começa por ter à frente pessoas interessadas em levar o país para a frente, o que não acontece. O que acontece é que o país é liderado por actores que só se interessam com a sua carreira como políticos. A política devia ser uma arte nobre, mas não o é. A arte de, através do diálogo, se exporem ideias e se chegar a um consenso útil a todas as partes é, por si só, escusada de explicações ou floreados. Mas isso não é o que acontece. A política é a mais vil das actividades e das cobardias. But i degress...

Voltando ao excesso de velocidade a culpa, a haver, está na mentalidade. Na mentalidade de quem, por falta de civismo, não se adequar ao meio onde vive e na mentalidade de quem governa pois, para haver mudança de mentalidades (que são as mais difícies de implementar) tem de haver vontade política e esta só se manifesta em duas ocasiões. Quando não se está a ganhar dinheiro (e há muito dinheiro a ganhar), ou quando se está a perder dinheiro (especialmente se for muito)! Ora como a maioria dos veículos novos pagam 60% ou mais de IA, os arranjos nos mecânicos pagam 19% de IVA, a gasolina baixa 0,01€ para subir 0,02€ e esta tem uma parte do preço total de lucro para o estado, está-se mesmo a ver. O imposto municipal, que supostamente serve para manter as estradas em boas condições (limpas e sem buracos), ninguém sabe para o que serve, apenas que não serve o seu propósito. Isto é uma mina de ouro logo, a mudança de mentalidade (a vir), será quando a UE declarar o fim do IA (ou da mudança dos termos em que este se aplica).

Até lá é ter cuidado com a caça à multa... e usar o voto para que não fiquem sempre os mesmos no poleiro. O parlamento é um cesto de maçãs... se não se mudam as que lá estão, apodrecem...