O título é um pouco dramático, principalmente porque eu não acredito no Diabo. Pelo menos não como entidade separada de dEUS. A ideia de que uma entidade consiga ser tão poderosa como outra que é definida como Toda-Poderosa e que consiga ser quase tão poderosa como esta, ao ponto de lhe fazer frente, está tão carregada de paradoxos que tentar deslindá-la, para mim, é mais difícil que dançar em cima de um campo de minas anti-pessoal. But i degress...
O que me leva a escrever este desabafo são vários factores, todos interligados. O principal tem a ver com o facto de que, desde que tirei a carta, tento guiar de acordo com o mínimo de consideração para com os outros. Tento ter sempre presente que não estou sozinho na estrada e que as minhas acções ao volante/guiador de um veículo (desde uma bicicleta a um TIR) podem influenciar directa ou indirectamente as acções de terceiros. E faz-me uma certa confusão que nem todos ajam desta forma, alguns nem fazendo sequer o mínimo esforço para manterem uma postura cívica. A segunda tem a ver com o facto de, porque alguns não têm o mínimo de civismo (conhecerão a palavra, ao menos?), sofro diariamente com as suas acções. E se não as sofro mais na pele (já por algumas ocasiões, infelizmente, me foi dado a provar esse amargo sabor) é porque tento ter uma condução defens... não, defensiva não, preventiva. A terceira e última teve a ver com a gota de água. Então não é que nesta última semana fui chamado de assassino por uma senhora, porque simplesmente dei um leve toque na buzina, devido ao facto de que estive cerca de um minuto à espera que a senhora se decidisse a entrar numa rotunda, quando o trãnsito circulava a conta-gotas? Nem dei um buzinão, nem dei vários toques de buzina. Foi só mesmo um leve (e foi mesmo leve) toque não fosse ela não ter notado a minha presença ali e na esperança que a mesma se decidisse a avançar, lentamente, que certamente alguém lhe daria passagem (como aconteceu). Assim que passou a rotunda mete os 4 piscas, encosta à dta e baixa o vidro, nitidamente convidando-me a parar ao seu lado, não para dialogar mas para me (tentar) ofender. Este foi o prelúdio. A gota de água foi quando um dia destes, à saída da Circular de Benfica e ao tomar o rumo da CRIL, tenho de frenar o meu veículo para evitar o embate com um que vinha da 2ª circular e atravessa duas faixas de uma vez só para se colocar na faixa mais à direita, onde eu seguia. Na primeira oportunidade coloco-me à sua esquerda e comunico ao condutor que fez uma bela manobra, mas qual não é o meu espanto quando sou brindado com um valente "Vai para o cara***". Pronto, passei-me. Quer dizer EU é que evito o acidente e EU é que vou para o c******? Isto é demais. Mas custava muito pedir desculpa? Reconhecer o erro? Com o sangue a ferver convidei a pessoa a encostar na berma, para "trocarmos impressões" (as minhas impressões, na sua cara). Como o convite não foi aceite, e por causa desta herança latina, decidi seguir o agressor verbal a ver se teria coragem de, fora da segurança oferecida pelo seu veículo, se revelar tão valente. Mas, sinceramente, nunca esperei que a pessoa em questão estivesse a seguir o mesmo rumo do que eu. Pensei que a pessoa, a partir de certo ponto, tomasse um caminho diferente e eu deixaria as coisas passarem em branco, até porque isto não são maneiras de resolver as coisas. Infelizmente, para o rapaz, isso não aconteceu e chegámos a um ponto em que o trãnsito o obrigou a parar. Imobilizei o meu veículo, tirei a chave da ignição (nunca se sabe), e dirigi-me ao seu. Infelizmente a pessoa fechou o vidro mas deixou a porta destrancada. Abri a porta e fui directo ao assunto. Sem ser demasiado agressivo (foi só um pequeno estalo) perguntei directamente quem é que ia para o ca*****. O rapaz tentou sair do veículo mas, para seu bem, evitei que saísse. Após algumas trocas de mimos (via verbal) e de algumas buzinadelas do trãnsito atrás, lá o convenci a encostar para dialogarmos coisa que, em andamento e com injúrias à mistura, é algo para o difícil! Parece que o rapaz percebeu a frase "Bela manobra, sim senhor" como outra muito mais ofensiva (o que me deixou algo perplexo, pois como será tal possível?) e decidiu ripostar na mesma moeda. Como lhe disse, se não me tem ofendido as coisas não tinham seguido aqueles trâmites. O pobre foi vítima de uma série de circunstãncias mas espero que tenha aprendido algo e, de futuro, evite meter-se em futuros lios e evite mal-entendidos. Eu, pelo menos aprendi. Não lucrei nada com isto e não me senti melhor excepto pelo facto de ter extravasado alguma da minha fúria. Mas reconheço que, de outra forma, seria muito difícil levar a que pudesse ter tido qualquer contacto com este jovem. Não sou apologista da violência. Mas tb não sou de fugir de um confronto. O problema é que, nestes casos, não há um agressor definido. Hoje é uma tia no seu Grand Cherokee, amanhã um "xunning", depois de amanhã um dealer num desportivo matrícula K (ou com matrícula recente com data de 92), uma pessoa idosa cujos reflexos já não lhe permitem corrigir os erros, etc ... Ou se transforma cada caso num confronto (e passa-se a vida em duelos - o que se pode revelar arriscado) ou se vai virando a face até que, como eu, se decide que é altura de fazer algo.
E o papel das autoridades? Qual é? Continuar a caça à multa, em operações de tolerãncia zero à esquerda, sem qualquer cunho didático mas simplesmente repressor, que os torna (e não a quem os ordena) cada vez mais objecto de repulsa por parte dos cidadãos a quem são suposto defender, ao invés de sensibilizarem os transeuntes para o cumprimento das normas, as leis e apelarem ao dever cívico. Quantos casos conheço de pessoas que foram multadas por ultrapassarem alguém pela direita, após várias insistências para que estas cedessem passagem... mas não conheço um único caso de alguém que tenha sido multado por não ceder passagem quando lhe foi pedido. Se eu todos os dias vejo um rol de atrocidades várias, muitas delas repetidas, porque razão as autoridades não as vêem, ou não as querem ver? Porque razão os BMW e os Subaru não andam na estrada a cumprir o seu dever cívico? Era muito simples! A cada irregularidade detectada, deteriam a pessoa momentaneamente, informariam-na do que procedeu mal e lançariam a respectiva coima pelo valor mínimo. Mantendo um registo informático seria possível saber se a pessoa repete essa contraordenação em específico (ou se cometeu muitas outras) e ir subindo o valor das coimas. Mas para isso teria que haver vontade política e o estado sabe que, implementando medidas dessas, os cidadãos iriam ser muito mais exigentes com o papel do próprio estado. Ora isto, por um lado, é bom mas, por outro, também é mau. Para os cidadãos é bom que o estado, qual Pai/Mãe/Mentor, tenha um papel definido, mas para os políticos ir-se-ia traduzir em ter realmente trabalho. Trabalho em pesar os prós e contras de cada decisão, trabalho de informar os cidadãos, em consciência, do porquê dessa decisão e o trabalho de manter um espírito crítico e aberto.
terça-feira, outubro 07, 2003
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário