Pesquisas Inconformadas

quinta-feira, maio 04, 2006

Vamos lá experimentar isto

Hallo, ppl.

Desde Julho do ano passado que criei uma espécie de newsletter, que envio para um conjunto de pessoal amigo. A certa altura, o nosso anfitrião passou a fazer parte dessa lista.

Um dado dia, ele teve a gentileza de me convidar a passar por aqui e dizer qualquer coisa. Fui adiando, dando até a impressão que me estava a fazer de difícil. Garanto-vos que não era o caso :) Para me envergonhar, ele decidiu fazer 2º convite. OK, I can take a hint. Deixemo-nos de pretextos do tipo "quando a vida estiver organizada" - até porque o mais certo é isso nunca acontecer - e vamos a isto.

Peço-vos apenas um pouco de paciência. Por um lado, é a primeira vez que faço um post num blog. Por outro, tenho tendência a alongar-me, como irão rapidamente perceber neste post. Foi criado em 2006-02-08, em resposta a um artigo da coluna "Salto Agulha", do jornal Destak, de 2006-02-03. Nesta coluna, a senhora queixava-se que os homens não prestam a devida atenção à lingerie. Enjoy! :)

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Cara Sofia,

Este post é um comentário ao seu artigo "Lin... gerir", publicado no Destak de sexta-feira, 2006-02-03.

Há umas semanas atrás, no programa "Elas Sobre Eles" na SIC Mulher, uma mulher queixava-se da obsessão dos homens com a lingerie, chegando ao ponto de afirmar que "parece que os anjinhos precisam destas coisas para terem prazer". Agora, vejo aqui outra mulher a afirmar que, afinal, "os anjinhos" não ligam pevide (nem nenhuma outra espécie de semente >;> ) a estas coisas...

Afinal, no que é que ficamos? Todas vocês falam de homens cheias de autoridade e conhecimento de causa, mas depois proferem afirmações contraditórias. Um tipo fica assim a modos que confundido, não é? Portanto, deixo a questão - afinal, nós gostamos ou não de lingerie? É que eu próprio já não sei :)

Ah, e já que estamos numa de dúvidas... há uns dias enviaram-me uma pergunta à qual não consegui responder, e pensei que talvez me pudesse dar uma ajuda - se os homens são todos iguais (mais uma frase dita com grande conhecimento de causa por todas as mulheres por esse mundo fora), porque é que as mulheres são tão esquisitas a escolher?

Adiante...

A lingerie é... um acessório. Ou seja, se estiver lá, óptimo; senão, não serei eu a dar por falta dela. IMHO, o papel mais importante da lingerie é revelar-me algo sobre a mulher que a veste - permite-me saber que ela é suficientemente desinibida para escolher uma determinada peça de vesturário íntimo, comprá-la, e vesti-la quando quer e porque quer (e não há nada melhor que uma mulher desinibida). Mas não é por isso que deixa de ser um acessório.

Há peças extremamente sensuais. Eu sou o primeiro a admitir que por vezes, ao passar por uma loja de lingerie, admiro a montra e vejo coisas que me agradam. Mas, por muito espectacular que possa ser a lingerie, o importante é a mulher, e não será no que ela tem vestido que eu irei concentrar a minha atenção.

No entanto, ao ler o seu texto, houve algo que me saltou à vista - trata-se de uma reclamação sobre o facto de os homens, perante uma mulher vestindo uma lingerie sexy, não ligarem à lingerie. Vi imensas referências à importância que a mulher dá à lingerie, e ao prazer que lhe dá vesti-la; mas não vi uma única referência ao acto de comunicar essa importância e esse prazer ao homem. Ou seja, é suposto que o homem faça uso dos seus conhecidos talentos na área de telepatia, e adivinhe o que se passa na cabeça da sua parceira :)

Se a mulher gosta de fazer sexo sem tirar a lingerie, então que tal (e eu sei que para muitas de vocês esta será uma noção revolucionária, mas tentem habituar-se à ideia aos poucos)... dizê-lo? Já pensaram bem que este conceito verdadeiramente inovador de comunicarem ao vosso parceiro aquilo que querem e sentem, de forma explícita e livre de ambiguidades e subtilezas, pode ser o caminho a seguir? :)

E atenção, que este conceito é polivalente q.b., e não se esgota na lingerie. P. ex., há um momento da série "Coupling" que acho genial. Uma das personagens femininas está a fazer uma "avaliação" a um dos personagens masculinos, e a certa altura diz o seguinte:

Jane: So we proceed to the clitoris. So difficult to find, so elusive. You know... there's something women down the Ages have wanted to ask, and... perhaps I should just ask it, now. Just how difficult to find, just how elusive is... "front and center"? That's not exactly hiding. It doesn't move. It doesn't go anywhere. It doesn't pop 'round the back in all the excitement.

Que podemos traduzir para:

Jane: Passemos, então, ao clitóris. Sempre tão difícil de encontrar, sempre tão fugidio. Sabes... através dos tempos, há uma pergunta que as mulheres sempre quiseram fazer, e... talvez esteja na altura de eu a fazer. Quão difícil é de encontrar, quão fugidio é... "mesmo na tua cara"? Não está propriamente escondido. Não se mexe. Não desaparece. Não vai parar atrás das costas, com tanta excitação.

É verdade. And yet... cada uma de vocês tem aquela preferência especial que a deixa "no ponto" (aquele momento em que parece que há uma qualquer força invisível que se esforça por vos elevar no ar pelo umbigo, fazendo aquele arquear das costas que é simplesmente lindo) - há quem prefira toques suaves e de fugida com a língua; há quem prefira um toque mais prolongado e forte, com a língua ou com o dedo humedecido; há quem prefira uma sucessão de toques rápidos com a parte de dentro do lábio inferior.

Minhas queridas, o problema não é encontrá-lo (bem, quando vocês insistem que tem que ser às escuras, às vezes é complicado; mas isso do vosso medo da luz - por oposição ao medo do escuro - será tema para outro dia); o problema é tentar adivinhar o que vocês gostariam que nós fizéssemos com ele. É que se não o disserem, se não nos mostrarem, terão de sujeitar-se à "tentativa-e-erro".

A verdade é que a receita básica, seja para a "queca-animalesca-tipo-já-cheira-a-borracha-queimada", seja para o "fazer-amor-com-carinho-e-ternura-e-convém-um-pouco-de-movimento-de-vez-em-quando-para-que-cada-um-se-aperceba-que-o-outro-não-adormeceu", é sempre a mesma: Um homem e uma mulher (cada qual poderá alterar estes ingredientes de acordo com a sua orientação sexual, preferência numérica, etc). Tudo o resto é tempero. E cada pessoa tem o seu próprio gosto no que diz respeito a temperos. E ninguém tem a obrigação de adivinhar o gosto dos outros. Cabe a cada um de nós anunciar o seu gosto.

Portanto, isto tudo para dizer que... a minha opinião sobre lingerie é neutra. Não tenho nada contra, nem a considero indispensável. Mas se uma mulher me disser que adora fazer sexo com lingerie, sou capaz de começar a dar mais atenção a esse pormenor. Não porque a minha opinião tenha mudado naquele momento, mas porque terei acabado de aprender algo mais que posso fazer para satisfazer essa mulher.

E essa é a grande maravilha do sexo - a aprendizagem de parte a parte. Ao entregarmo-nos e revelarmos o que sentimos e do que gostamos, estamos a dar à outra pessoa o que ela precisa de saber para nos satisfazer. Nunca me convenceu muito aquela teoria de que "eu tenho é que entrar no acto concentrado no meu prazer, ela tem mais é que concentrar-se no dela, e prontos". O que me dá prazer é dar prazer. E para isso, nada melhor que cada um mostrar ao outro aquilo de que gosta.

Senão, concordo consigo; mais vale realmente evitar chatices, e ficarmo-nos por um serão solitário - vocês a pilhas, e nós a pulso ;)

Ah... a cuequinha para o lado fica, de facto, muito gira (assim como a cuequinha na zona dos joelhos, apesar de esta ser menos polivalente no que diz respeito a posições). Mas ainda não encontrei uma mulher que o faça, por sua própria iniciativa. Vocês até podem gostar, mas... mais uma vez, nós não adivinhamos :)

Obrigado pelo artigo, gostei muito!

E um obrigado ao Miguel Duarte por me ter chamado a atenção para o artigo :)

:* & []

7 comentários:

L'enfant Terrible disse...

Yahoo (ou google), até quenfim :).

Bom post... kip âp da gud work.

Randall disse...

Interesting post,Nice Blog..:)

Patrícia disse...

Este texto contém algumas das linhas mais divertidas que já li! :) E estou a ser absolutamente sincera.

Adoro conversas (ou, em falta delas, comentários bloguerianos) sobre sexo, mas é difícil tê-las sem que descambem (bolas... difícil é um eufemismo) porque as pessoas tendem sempre para a ordinarice ou para o disparate...

Não me entendas mal, ADORO rir e brinco com assuntos sérios, mas gosto de conjugar a brincadeira com verdadeira partilha de opiniões e informação. Penso que foi isso que fizeste. Escreveste um texto cheio de humor mas muito sério.

Continua a procurar saber mais sobre a pessoa com quem estás. Se ela não quer mostrar-se, o problema é dela e é ela quem sofre as consequências. Já agora, não te esqueças de que o que vale para nós, vale para vocês!

Llyrnion disse...

Bem, antes de mais nada, finalmente um bocadinho de tempo para agradecer os comentários. Parece que não, mas foi o meu primeiro post :)

Sim, é muito difícil ter uma conversa sobre sexo sem descambar. Aliás, como pode atestar quem me conhece, é difícil, inclusivé, ter uma conversa normal que não descambe para o sexo, na sua vertente do disparate :) Bom, OK, nem sempre é assim...

Aliás, percebo perfeitamente aquilo a que te referes - é no equilíbrio entre o disparate e a seriedade que está a virtude. Sinto-me eternamente grato ao Destino por conseguir passar lá perto, de vez em quando.

Quanto ao que vale para homens e mulheres - tens toda a razão, mas a minha experiência é que s mulheres, no que toca a questões de erotismo, são mais fechadsa, mais (auto-?)reprimidas. É pena, mas não deixa de ser gratificante quando conseguimos dar um passo em frente, e explorar mais uma camada que acabou de ser revelada.

Bem, voltem sempre.

Patrícia disse...

olha que bonito serviço arranjaste! Agora a maioria dos comentários no meu blog recém-nascido são meus!! :D

Llyrnion disse...

Don't worry. No meu também é o mesmo. Afinal, de que serve prepararmos um parque de diversões se não podemos depois dar umas voltinhas nas coisas? :)

Patrícia disse...

Parque de diversões?! Experimenta psicanalista de trazer por casa (a boca dirige-se única e exclusivamente a mim mesma!)... :P