Pesquisas Inconformadas

domingo, maio 02, 2004

As pequenas coisas da vida II

Imagino-me com 2 ou 3 anos, deitado no chão de uma qualquer estrada, com carros e motas a passarem constantemente por mim e sem ninguém parar. Não tenho consciência para perceber o que me está a acontecer, mas tenho a noção do perigo e por isso encolho-me. O perigo é tanto que nem tenho vontade de chorar, só de me encolher o mais possível e fechar bem os olhos na esperança que ele se vá embora...

Isto é o máximo que eu consigo imaginar, em relação ao que aconteceu ao meu gato há uns poucos dias. Sim, imaginar, porque em termos reais o mais próximo que tive foi um acidente de mota na A5 e vi uns quantos carros travarem antes de me atropelarem. Mas acho que para conseguir viver a experiência que o pobre bicho viveu teria de ter ficado na faixa mais à esquerda e terem passado uns quantos carros a abrir por mim, coisa que não aconteceu (felizmente).

Vê-lo hoje, já ambientado à casa, a brincar sozinho... pulando, correndo, escondendo-se, trepando ou jogando à apanhada com as sombras ou com objectos inertes, lembrou-me que não é preciso salvar o mundo inteiro para encontrar a satisfação de se sentir que se contribuiu de alguma forma para um mundo melhor.

Um amigo meu costumava contar uma história, popular, de autor desconhecido, sobre um rapaz que caminhava na praia, na maré vazia, e que viu uma menina apanhar as estrelas do mar que tinham ficado encalhadas na areia e a devolvê-las ao mar. Decidiu interpelar a menina:
- Que fazes, menina? Porque devolves as estrelas ao mar? Não vês o quão grande é esta praia? Não as vais conseguir salvar todas. Achas que vais fazer alguma diferença?
Ao que a menina não respondeu. Silenciosamente, pegou numa estrela mais, olhou o rapaz nos olhos, fitou o mar e atirou nele a estrela. Aí, então, depois de olhar novamente o rapaz nos olhos, respondeu-lhe:
- Para esta faz diferença...

Merlin, és a minha estrela!

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