Pesquisas Inconformadas

domingo, maio 23, 2004

Sobre o casamento de Letícia e Felipe!

Compreendo alguma da histeria que se faça à volta de algum evento sobre a realeza, nomeadamente neste caso sobre o casamento real espanhol! Afinal quem não gostaria de ser um príncipe ou uma princesa e viver uma história de conto de fadas ou digna de se fazer um filme?

Mas depois sou assolado pela realidade e lembro-me que na época medieval, a época dos reis e raínhas, a nobreza não era escolhida pelo povo e o título de rei era passado de pai para filho, como se o simples facto de se nascer com dinheiro fizesse de alguém uma pessoa melhor em termos de carácter, inteligência, presença de espírito, sentido de justiça e outros elementos necessários e imprescindíveis a quem se quer que seja um líder de um povo. A única altura em que o povo tinha algum poder era quando havia uma revolução e se matavam uns quantos nobres e às vezes alguns reis e/ou raínhas! Senão, tinha de se aguentar à bronca até que o/a rei/raínha batesse a bota ou fosse assassinado/a!

Lembro-me também que as intrigas de corredor e os jogos de interesses, culminavam muitas vezes com o assassínio ou exílio de alguém! Por muito que me apeteça exilar o Tortas para o meio dos Zulus ou dos bosquímanes, sei que como alguém civilizado devo aprender a viver com as suas opiniões... Lembro-me ainda que o povo muitas vezes vivia oprimido e sem condições e era tratado nitidamente como carne para canhão, como lacaios cujo único propósito era servir a "nobreza". A sua única safa era ganharem dinheiro (sem colocar em causa os métodos), muito, irem para o exército, ou irem para o clero e, teoricamente, abandonarem a vida mundana (o sexo, pois claro). Que os casamentos entre nobres eram "arranjados" pelos pais e que, acima de tudo, era a aparência que mais contava. Mesmo que esta fosse maioritariamente artificial.

Mas, claro, para o cidadão normal, o zé povinho de vistas curtas e memória selectiva, é mais fácil pensar no Príncipe Felipe como um cavaleiro andante, qual Rei Artur com sangue de D. Quixote, e em Letícia como a camponesa, a gata borralheira, que foi salva pelos braços do seu amado príncipe de ter de levar uma vida de escravidão. Só assim se compreende a histeria que passa pelas imprensa e televisão!

Felizmente há alguns exemplos de que as coisas estão a mudar! Alguns "earth-shatering events" que nos levam, lentamente, a abrir os olhos e olharem para esta gente como gente que são e não pelos supostos títulos "nobres" que têm. A princesa rebelde, Stefanie do Mónaco, é um exemplo claro disso e muitos dos cabelos brancos que Rainier tem devem-se certamente às "travessuras" (como de certo serão chamadas no principado do Mónaco) desta princesa com pêlo na venta. A morte de Diana (não que seja um evento feliz) também veio lançar muitas dúvidas sobre se de facto a vida dos príncipes é assim tão perfeita quanto se julga, ou se é apenas fabricada para parecer perfeita! E, felizmente, alguns dos jovens príncipes europeus vão-se dedicando mais às tarefas humanas e menos às aristocratas.

Até lá, até à completa integração da "nobreza" na sociedade moderna, vou agradecendo à TV por cabo, à internet, às revistas masculinas e à minha saúde física e mental o fornecerem-me a capacidade de me abstrair de toda esta espiral de euforia sem sentido!

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